Café com HQ #48 – Por que ninguém lê meus quadrinhos?

Café com HQ #48 - Por que ninguém lê meus quadrinhos?#VaiterCaféComHQ!

Chegou a hora de mais um Café! Deste vez começamos uma discussão que interessa à grande maioria das pessoas que publicam quadrinhos online: Por que é tãããão difícil conseguir formar um público leitor?

Damos a pontapé nessa discussão, mas queremos que você também participe com sua opinião. Deixe  seu comentário que voltaremos ao assunto em outro programa e vamos colocar os novos pontos de vista em discussão!

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12 comentários

  • Eu sempre ouço o Café com HQ desenhando. E dessa vez era uma tirinha de gato. rs

    Essa questão que vocês abordaram sobre a identificação com as personagens pode ser vista em alguns best sellers atuais. Vou dar exemplo do Crepúsculo que, embora não tenha lido, conheço a história (o combinado aqui é que, a cada ida ao cinema, um de nós decide o filme, e o outro tem que ir).

    O público-alvo do Crepúsculo são as adolescentes. E como é a personagem principal? Adolescente e socialmente desajustada. Só. O que mais se pode dizer dela? Nada. Até estas duas características são uma espécie de redundância, uma vez que adolescentes são tradicionalmente desajustados sociais.

    Não é nem uma personagem rasa, é uma personagem OCA. Mas essa lacuna, no meu entender, foi deixada propositadamente. Eu gostei da analogia do The Oatmeal: ela é uma calça cujo tamanho foi omitido; desta forma, ela pode ser “vestida” por qualquer leitora. Não tem uma descrição física nem psicológica muito precisa justamente para que a leitora possa dizer: “Sou eu”. Mais ou menos como acontece com horóscopo.

    E o que acontece com ela? Ao longo de uma história que preenche quatro fucking livros (lembrando que O Nome da Rosa é volume único. Cem Anos de Solidão idem.), ela é cobiçada por um vampiro ancestral (versão brilhante romantizada, mas que é o homem perfeito) e se torna o objeto de disputa por um lobisomem saradão (o bad boy); além disso, ela é o pivô de uma disputa entre os vampiros mais fodásticos de todos e ainda dá à luz de uma maneira, digamos, única! Tudo isso a despeito do fato de ela ser absolutamente COMUM. O que o livro diz? “Pode ser VOCÊ”.

    Tá, dá certo. Mas no meu entender, é um recurso pobre, momentâneo e de pouco valor intelectual. Ok, eu soo elitista quando digo isso. Mas acho que focar demais no público cria obras esquizofrênicas. Porque uma peça de arte tem, originalmente, a função de comunicar, exibir, mostrar alguma ideia do autor. O foco é a ideia. Se as pessoas se identificam com a ideia, então você tem um público.

    Só que quanto o objetivo central é o arrebanhamento de público, para só então ajustar a ideia, o resultado acaba sendo peças artísticas de qualidade duvidosa. É nesse sentido que eu digo que não existem gêneros artísticos intrinsicamente ruins, mas sim arte ruim. Novelas, por exemplo, caíram de qualidade proporcionalmente à velocidade que seu ibope podia ser medido. Músicas com letras pegajosas e fáceis. Quadrinhos da Marvel dos anos 2000. Estas obras são esquizofrênicas porque elas partem do princípio de que o autor sabe o que o público quer. E não sabe. Acaba que, ao tentar as duas coisas, nem traduzem o sentimento do artista e nem o do público. O sucesso é momentâneo, descartável e esquecível, e exige constante “renovação”; entre aspas, porque só mudam as moscas, a merda permanece. Dá pra ganhar muito dinheiro com isso? Com certeza! Dá pra realizar uma obra memorável? Duvido.

    Esse fenômeno da família negra pobre x família branca de classe média por ser visto no cinema brasileiro, de forma oposta. Uma boa parte da produção cinematográfica brasileira foca na questão da miséria, da favela, da seca nordestina… e já especializou de tal forma nesta tecla que o mauricinho da classe média acaba se identificando com o coronel do BOPE que dá porrada no deputado (mesmo que em outro momento do filme ele vire bata na cara dele e o acuse de financiar essa merda) ou com o ex-trocador que vira a esperança de uma favela dominada por um traficante psicopata.

    Na questão do mangá e a classificação (e, como biólogo, curto uma taxonomia!), só é preciso tomar cuidado em fechá-los num grupo ou estilo que sejam artificiais. Por exemplo, embora feitos ambos por ocidentais, poucos agrupariam O Incrível Hulk e Peanuts no mesmo gênero ou estilo. Com o mangá provavelmente acontece o mesmo. Não leio muito, mas do pouco que conheço, não agruparia, por exemplo, Neon Genesis Evangelion e Lobo Solitário num único tipo de quadrinho. Como disse o Marçal, “mangá” é só uma palavra que se usa pra chamar quadrinhos (nisso eles nos superam, nós não temos uma boa palavra para esta forma), e nós a acabamos por perceber como gênero (como notou o Chaves) apenas por utilizarem alguns recursos estilísticos diferentes daqueles que se encontra nos quadrinhos ocidentais. Mas as HQs européias, por exemplo, seriam diferentes o suficiente para as percebermos como um terceiro grupo? Onde se classificariam os quadrinhos produzidos no Brasil, que recebe influência de todos os três grupos? Seria mangá um táxon? Ou um supertáxon, um apanhado generalizado de táxons?

    Será que dá pra fazer um webcomic brasileiro que role identificação com mangá? Acho que Lobo Limão pode falar mais a respeito. Outro quadrinho, este norteamericano, que penso que aproveita-se bem do estilo oriental é Sandra and Woo. Pelo que sei, está tendo uma boa repercussão por lá.

    http://www.sandraandwoo.com/

    Outra obra brasileira que segue o estilo mangá e teve uma aceitação bem razoável foi Holy Avenger. Não sei os números, e também não sei se o público são os mangakas ou os RPGistas, uma vez que o universo da revista é uma interseção dos dois (os autores quase todos eram editores da Dragão Brasil). Mas também vale a citação.

    Caras, gostei muito do programa, embora tenha tido participação reduzida. Ainda não sei porque ninguém lê meu site (na verdade, eu sei, vocês responderam antes de entrar a vinheta, mas permita-me continuar em negação), mas mesmo assim, ótima troca de ideias!

  • Hummm… eu fiz um comentário, mas não apareceu.

    Mas blz. Tenho salvo em casa, depois eu posto de novo.

  • Infelizmente não pude participar do episódio, mas tenho uma teoria que queria compartilhar por aqui, sobre o porquê da resistência do “homem branco heterossexual de classe média” em acompanhar séries / filmes / quadrinhos sobre realidades das quais não faz parte (negros, gays, pobres etc).
    Primeiro: Há exemplos de sucessos com conteúdos de fora dessa cartilha: As sitcoms “Will e Grace” e a do Will Smith, por exemplo. E a série do Homem Aranha com o garoto negro no lugar do Peter Parker… Seriam exceções, talvez. Mas o motivo que afasta o público “padrão” de histórias de nicho é, por muitas vezes, a transformação do que se consome como entretenimento em bandeira ativista.
    Não incomoda que o super herói seja gay. Incomoda que ele interrompa uma luta para declamar um manifesto anti-homofobia. Não importa a etnia do personagem, desde que isso não seja mais importante do que O PRÓPRIO personagem.
    Já quanto a histórias envolvendo classes sociais, sim, nos identificamos com o Peter Parker por ele ser um miserável, mas ninguém entende o porquê ele não vender os direitos da teia pra 3M e resolver a vida dele de uma vez. Mas, no geral, o público quer ALMEJAR ser o herói, e deve ser MUITO MELHOR ser o Batman ou o Homem de Ferro.
    P.S.: Já dizia Joãozinho Trinta: Pobre gosta de luxo. Quem gosta de pobreza é intelectual. 😉

  • Uma coisa que eu tenho pra sugerir pra qualquer quadrinista (principalmente para quem conta histórias seriadas) inserir no seu blog é uma página para novos leitores, as webcomics gringas mais famosas têm isso e é um recurso que sempre me ajuda quando não conheço o quadrinho e quero entender no que se trata.

    Abraço, pessoal.

  • São inúmeros pontos, para se levar em consideração, em relação ao assunto.

    É o velho assunto de que nossa principal feramente de divulgação não funciona mais e, o público está extremamente acomodado a receber informação e (nessa ferramenta que não funciona), não de ir atrás. Nós que tentamos manter um blog, sofremos um pouco com isso, pois convencer alguém (hoje) à acessar seu blog, é uma tarefa impossível.
    Puts, um ponto que observo também é que parece que o público (boa parte deles) vão se interessar apenas naqueles trabalhos com um “formato pronto para facebook”, que seja colorido, que tenha assuntos que viralizem e, uma atualização frequente. Por mais que façamos UMA TIRA POR DIA, ela não é mais suficiente para o público que consome informação rápida.

    Gostaria de compartilhar algo que ando fazendo e que trás um retorno bom de público.
    Um “método” interessante que venho utilizando para levar público ao meu blog é: Grupo no facebook. Meio que desisti da minha fan page, a visualização dos posts chega à ser ridícula.

    No grupo, sempre que posto algo, todos recebem a notificação no facebook (logo, por mais que eu tenha 30 pessoas no grupo, o número de visualização chega a ser maior que na minha fan age de 400, isso porque eu estou no início do meu trabalho… Enfim). E por mais que dessas 30, 20 pessoas só clicaram na abinha do facebook e viram que eu publiquei, um dia, eles vão ver o meu conteúdo (ou sair do grupo :P)

    O grupo também, tem um acolhimento melhor do que uma fã page, um leitor pode ficar muito mais feliz/se sentir especial ao participar do grupo da sua webcomic, do que dar like na sua fan page. Esse valor sentimentalista vale muito, pois na hora que você fazer um post conversando com os seus leitores, pedindo opinião e tals, eles vão querer participar, se sentindo interatores com o trabalho que eles curtem.

    O trabalho com o grupo vêem me satisfazendo muito, o único problema, é que sou pequininim ainda, quase não existo, então, não sei dizer se essa experiência seria boa para todos

    • Essa do grupo eu notei com o Jurassicast, que já trabalha com essa ideia também. Acho muito interessante!
      O intimismo é o caminho, a gente só precisa tratar bem os fãs que já temos e esperar que eles divulguem por nós, assim o boca a boca vai aumentando o público.
      Ótimo comentário, Guilherme!

  • Olá seres humanos, tudo blz? Meu nome é Orian, sou de Belem do Pará. Gostei muito desse episodio, na verdade é o primeiro que ouço de vcs (Y) mas me divertir muito e tambem até bateu uma saudade da época que desenhava.
    até a proxima 🙂

  • Sobre o público de mangá (ou otakus, otakrazys e afins) mudou pra caramba nos últimos anos. Há uns 8 anos atrás dava pra você criar um estereótipo bem definido dessa galera, mas hoje em dia é um verdadeiro okonomiyaki (não? ok…)

    Por exemplo, se você fosse num evento de anime lá em 2004~2006 você só via cosplay de personagem de anime, salas temáticas de anime, tranqueiras de anime e música de anime. Hoje você tem cosplay de Branca de Neve, Jack Sparrow, Wolverine, sala temática de Doctor Who, tranqueiras de Star Wars, música coreana e campeonato de lolzinho. Como diria um amigo meu “deram uma abrasileirada na parada”.

    E aí quando você questiona as vendas da Turma da Mônica Jovem, na verdade a questão é “quem está comprando?”, porque não é necessariamente o público otaku. Inclusive houve uma resistência MUITO grande desse povo em aceitar, se é que aceitaram. Eu realmente acredito que vende, porque é Mônica e ponto final. A sacada do “jovem” é que aumenta um pouquinho a faixa etária que o Maurício atinge nas vendas dos periódicos – subindo pra, sei lá.. 12 anos? Então tem muito mais a ver com idade do que “tribo/nicho” otakrazy.

    É duro encarar como estamos velhos, mas a primeira edição de DragonBall da Conrad tem 14 anos. Faz pelo menos 5 anos que ninguém publica nada do Toriyama por aqui. É possível que o público da Turma da Mônica Jovem nem saiba quem é o Goku hahaha

    E a grande questão do universo quadrinistico se mantém: o que é preciso para se vender mais/atingir um público maior? Ninguém sabe e é isso ae… continuamos tentando e seguindo em frente.. indo em busca do mais forte https://www.youtube.com/watch?v=ynncztvL7E4

    • Café com HQ

      Concordo 100%, eu vivi nesse ambiente e vi a transformação dos eventos, então acho que posso concordar com propriedade.
      Pô, tá publicando DB sim! Inclusive eu assino (Panini) e tá na fase do Freeza! Mas que tinha que republicar (e agora até o final) o Dr. Slump, tinha!
      Digo

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