Comentando Tiras – Tome Isto!

Comentando Tiras mais uma vez! Hoje a tirinha comentada é do Antonio Edison Jr, do Tome Isto!.

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Rafael Dourado – Gosto muito desse estilo de desenho – tem a preocupação com equivalência anatômica, volume, e poucos detalhes, deixando o foco para o que realmente importa. Senti falta de algum contexto “espacial” pra entender onde eles estão, mas fora isso, ficou ótimo.

Rodrigo Chaves – O desenho do Antonio Edison é um exemplo de um desenho simples e funcional. Os personagens são expressivos e claros. E o conteúdo das tirinhas é fácil de entender. E isso é muito bom, tem um monte de quadrinistas por aí que não conseguem fazer isso.
O que falta nas tirinhas é intensidade. Fazer o desenho ficar realmente bonito, atraente para quem olha, aquela tirinha que a gente lê e depois volta para rever como os desenhos ficaram bonitos. E a mesma coisa com os roteiros. Falta dar mais uma trabalhada para que eles deixem de ser “engraçadinhos” e passem a ser memoráveis.
Enfim, os elementos para a tirinhas ser muito boa estão todos ali, só falta um pouco de pesquisa, um pouco de trabalho duro para conseguir passar para um próximo nível.

Digo Freitas – A criação de uma história seriada em tiras baseadas no mesmo assunto é sempre complicado de se tratar… É só lembrar que nos jornais antigamente se gastava 1/3 do espaço só para explicar o que já tinha acontecido, e aqui nas 3 tiras selecionadas isso não é necessário, e pra mim já é um ótimo ponto.
Eu também gosto muito do traço do Antonio, é simples e resolve, porém acho que ele é capaz de ir muito além do “talking heads”, que é o que vemos basicamente. As tiras em tons de cinza prejudicam bastante o entendimento do entorno do personagem. Já vi alguns trabalhos dele com cor e também ainda passam por estes problemas. Recomendo um estudo no uso das cores, frias e quentes, destaque, rebaixamento, desfoque, etc.

Leonardo Maciel – Primeiramente, gostei das tiras. Acho que elas tem o mais importante, que é timing. Gosto dos desenhos e não acho que eles devam se tornar mais complexos. Mas tem o que se melhorar, sempre tem, mesmo neste estilo.
Recomendo que você dê uma olhada na tira Chainsawsuit (http://chainsawsuit.com) e na animação Dick Figures (https://www.youtube.com/show/dickfigures), ambas com um estilo minimalista, mas onde os autores claramente dominam movimento, interpretação e composição.
Quanto à tira em si, vamos lá. Pra evitar que a leitura fique monótona, só com cabeças conversando, como o Digo apontou, basta variar a composição de alguns quadros. Redesenhei rapidamente alguns quadros, pra que você entenda melhor.

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Nesse caso, acho que você poderia ter dado um close no celular no segundo quadro, deixando claro pro leitor que ali é um celular e evitando a monotonia da composição repetida. No último quadro, eu teria exagerado um pouco mais a cena dele sendo soterrado pelas pessoas, como coloquei no exemplo, talvez ainda mais do que eu fiz. Poderia mostrar apenas o braço do personagem principal pedindo ajuda. Esses exageros ajudam a acentuar a piada, que está boa. Por último, sobre os tons de cinza atrapalharem a leitura, acho que o problema é você usar os mesmos tons nos personagens principais e os do fundo. Use tons mais escuros nos personagens em primeiro plano e mais claros nos em segundo plano (ou o contrário) e a leitura da tira melhora muito.

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Rafael Dourado – Bom o uso da onomatopeia, mas a quantidade excessiva de personagens no fundo aparecendo naquele quadro podem comprometer um pouco a leitura daquele quadrinho em específico. Poderiam ser apenas uma “mancha”, só ali, sem definições.

Digo Freitas – A repetição de enquadramento pode ser uma estratégia de storytelling, mas eu pessoalmente gosto de ler histórias em quadrinhos onde há variações nos enquadramentos, pontos de vista, expressões corporais (e não só no rosto), etc.

Leonardo Maciel – Melhor tira das três. Gostei como você deixou a piada, o “punch-line”, pro último quadro. Um problema que vejo muito em tiras é a diluição da piada por todos os quadros da tira. Deixar a reviravolta da piada pro último quadro é muito importante, já que muito do humor é baseado na surpresa, na quebra de expectativa do leitor.
Como eu já tinha falado no comentário anterior, concordo com o Digo sobre a variação de composição, não deixar sempre todos os quadros iguais, mas no caso dessa tira em específico eu discordo, acho que aqui a piada funciona melhor com a repetição dos quadros.

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Fiz um exemplo rápido deixando o fundo do segundo quadro limpo, como o Dourado havia sugerido, realmente acho que melhora a leitura e quebra a monotonia da composição. Também escureci os personagens em primeiro plano e clareei os em segundo plano, pra mostrar como melhora o entendimento do que está acontecendo.

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Rafael Dourado – Aqui é onde a simplificação do traço pode “te trair” um pouco. Só o cabelo é muito pouco pra identificar a personagem como feminina e/ou desejável. Pra reforçar o quão “sortudo” ele seria, caberia um clichê mais padrão de gostosona ou algo assim.

Digo Freitas – Concordo com o Dourado sobre a garota, só entendi que era uma garota depois de terminar de ler a história. Talvez uma estilização diferenciada para garotas, como cabelo, cílios, batom, quadril, seios maiores, o que achar destes que se encaixam e trarão a mensagem “é uma mulher” ao leitor. Há formas de fugir do senso comum e ainda sim apresentar uma mulher, mas envolve diversas dicas visuais que você precisa se resolver no simples antes de partir para esse tipo de complicação.

Leonardo Maciel – eu particularmente não tive problema pra entender que era uma mulher, mas se tem gente que teve, é melhor prestar atenção. Se a pessoa tem que reler pra entender um elemento, ela já perdeu o timing da piada e não vai achar graça. Não acho que você tenha que elaborar muito o desenho pra destacar que é uma mulher. Talvez só adicione uns cílios e aumente um pouco o quadril e o busto. Novamente, os trabalhos que eu recomendei, Chainsawsuit e Dick Figures (você pode dar uma olhada também na tira XKCD) podem ser boas referências de como desenhar mulher de maneira minimalista.

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Eu acho que essa é a tira que mais sofre do problema de composição repetida. Veja que com poucas mudanças a tira já chama mais atenção visualmente. No segundo quadro dei um close maior no casal e afastei mais o público. No terceiro quadro, como só personagem principal fala, um close nele resolve o o problema e quebra a cadência visual.

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7 comentários

  • Que bagunça! Acho que vocês colocaram as tiras nos locais errados. Fiquei confuso sobre quando cês tavam comentando sobre qual tira.

    Bom, darei meu pitaco:

    Eu, particularmente, gosto bastante das suas tiras. A leitura é clara, o timing é ótimo e a expressividade também. Você geralmente mantém o ritmo dramático morno, sem grandes espasmos, mas eu gosto disso, pois se algum dia você desenhar um quadrinho desesperado, vai causar impacto.

    Concordo com o Digo: a continuidade das suas tiras é muito clara. Você pode ler cada tira separadamente com tranquilidade, mas fica bem óbvio que se trata de uma série.

    Os tons de cinza não me incomodam e funcionam bem. Eu manteria, porque acho que sua tira já tem uma identidade. Talvez colorizar agora dê uma quebrada nisso. A capa do Sufoco, por exemplo, achei meio estranha justamente porque era colorida.

    Quanto à variação de composição, eu discordo deles em parte. Não vejo nenhum problema em manter o mesmo enquadramento na tira toda. É uma opção segura. Mudar a composição da cena é arriscar-se. Ambos são válidos, mas eu tendo a achar que a composição precisa ter uma finalidade. Se ficar variando muito sem um objetivo específico, sua tira pode ficar bagunçada e atrapalhar a compreensão do leitor.

    Os redesenhos do Maciel, por exemplo, eu achei que ficaram ótimos. Realmente algumas características ficaram realçadas no segundo quadro da tira do tijolo, mas ao mesmo tempo a tira perdeu outras. Por exemplo, o close do celular mostra melhor o “tijolão” para o leitor, mas você perde a referência da surpresa do vendedor. Ou seja, é tudo uma questão de estilo e depende do que você quer focar. A sua tira ficou com cara de Tome Isto, a tira redesenhada ficou com cara de Nabunda Nada, e ambas ótimas, apesar de diferentes.

    Já a solução do Maciel pro segundo quadrinho com a mina querendo jogar o jogo da cobrinha eu realmente gostei mais e do último na tira do tijolo. Mas veja que é menos uma questão de enquadramento e mais de expressividade. Ficou uma linguagem corporal do caralho em um rascunho, dá vontade de bater nele. Mas consolemo-nos pelo fato de que é menos difícil melhorar uma solução do que compô-la.

    Se minha opinião vale de alguma coisa, eu daria uma pensada melhor a respeito do assunto geral das suas tirinhas. Na minha opinião, você já tem um ótimo domínio da linguagem, agora já pode trabalhar no objeto pelo qual irá usá-la. Tá, eu sei que a aqui a ideia é analisar as três última e falar sobre detalhes técnicos, mas eu já li todo o seu site e acho que as tiras giram muito em foco de poucas coisas. Uma parte significativa delas é sobre as dificuldades de fazer tiras, inclusive. E são legais, não me entenda mal, eu realmente gosto do seu trabalho (comprei todos os seus fanzines, mas você não estava no estande). Mas para o longo prazo, pode ser complicado manter o interesse falando só de uma coisinha ou outra. Talvez funcionasse se fosse uma tirinha de nicho, como Dilbert ou Mulher de 30, mas mesmo essas precisam de dar uma variada às vezes. Vide Vida de Suporte.

  • Obrigado pelos comentários, pessoal!

    Continuarei me esforçando pra melhorar cada vez mais meu trabalho 😀

  • Parabéns Antônio!
    E ótima avaliação galera do Café!

    Enviarei minhas tiras também. Quem sabe eu apareço aqui 😀

  • Lucas Marques

    Belos trampos, cara! Daria para reconhecer seu traço em qualquer lugar. Algo único, sabe? Se seus trabalhos estivesse na Gibicon, por exemplo, eu saberia que ele é de sua autoria mesmo ignorando os créditos, justamente por isso. E você deve saber, traços simplificados em blogs de tiras ajudam – em boa parte dos casos – no humor e na estética em si. Nem sempre é legal detalhes grandes, ricos e exagerados porque o modo de leitura de muitos visitantes de webtiras é rápido. Algo como… levar dois segundos no máximo em um quadrinho, focando apenas no que diz respeito ao desenvolvimento da gag. Movimentação dos personagens, o tão discutido enquadramento dos balões. A simplificação ajuda nisso. Evita deixar o leitor confuso.

    Eu particulamente acho muito bacana e… peço que o mantenha, por favor! Hahah Você ganha pontos por isso. Mas nada é tão bom que não possa dar uma melhorada. Em algumas cenas eu sinta falta de expressões que representem fielmente ou reforcem de forma legal uma ação: Você gesticula seus personagens apenas quando necessário – e quando o faz, é de maneira objetiva e, na minha opinião, desnecessariamente estática, principalmente quando o personagem se surpreende com algo ou está gritando, caso do SOCORRO da primeira tira.

  • Muito legal esse matéria, queria participar de alguma próxima com minhas tiras, segue o link ( http://memotiras.blogspot.com.br/) tentei enviar um e-mail mas ele retornou.
    Valeu pessoal!
    o/

  • ótimas as dicas rascunhadas do Leonardo 🙂

  • Passando só pra dizer que as dicas foram bastante úteis na reformulação das minhas tiras pra nova coletânea “Tome Isto! Volume 1” (que – propagandinha descarada básica. – será lançada no FIQ desse ano). Não apliquei todas as alterações sugeridas, em partes por falta de tempo, em partes por achar que ficava melhor do meu jeito, e em grande maioria por pura preguilça mesmo.

    Segue um exemplo de reformulação das três tiras comentadas aqui no post:
    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10204931091907095&set=a.3213727632134.2121824.1534595076&type=3

    E valeu de volta pela força, galera! : ]

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