Comentando Tiras – Tirazarte
O Comentando Tiras está de volta!!!
Pra quem não conhece, o Comentando Tiras funciona assim: A turma do Café dá uma olhada em três tiras de um determinado autor e repassa os seus pitacos, com comentários e sugestões.
Pra iniciar a safra 2014 desta seção trouxemos o Tirazarte, do Rafael Souza.
Wesley Samp – Primeiramente, é o Will que tá usando o computador na tira? 😀
Acho que a tira funciona, mas um detalhe que poderia reforçar a piada seria enfatizar a expressão de seriedade/aborrecimento do Will (é o Will, vai!) no terceiro quadro.
Quanto à estrutura da tira, uma outra solução seria eliminar o primeiro quadro e, no segundo, usar uma foto do personagem no bate-papo, para deixar claro que é ele quem está digitando, e não apenas lendo uma conversa de terceiros.
Digo Freitas – Sempre lembro do comentário que fizeram no Strip Search, sobre a tira se sustentar sem um dos três quadros, continuando engraçada. No seu caso, o primeiro quadro infelizmente não é o caso, pois é totalmente descartável. Ele não informa nada ao leitor, não introduz nenhuma gag que será arrematada no final, é só um cara apertando uma tecla, o que já vemos como resultado no quadro dois. A piada, apesar de eu já ter visto em outros lugares, é válida, mas como disse o Chaves, faltou um desenvolvimento. Talvez fazendo uma introdução ao personagem, por exemplo, com o mesmo quadro no início e no final. Seria outra piada!
Will Leite – De fato, o fulano da tira lembra eu. Só falta uma BOA dose de testa haha.
Mas sobre a tira… é clássica! Acho que todo mundo que faz tiras para a internet precisa fazer essa. Eu não uso esse formato de tira vertical no meu blog. Mas acho excelente… ajuda no quesito surpresa da tira. Outra observação… a tira funcionaria tranquilamente sem o primeiro quadro. A piada seria a mesma. Mas eu acho muito estranho uma tira com dois quadros. O primeiro quadro – do cara segurando a tecla ‘K’ – resolveu bem!
Rafael Marçal – É, também achei que é o Will na tira… mas não pela testa e sim pelo dedo gordo no primeiro quadro. Sobre a tira em si, acho que o desfecho é bom, mas é meio óbvio e já vi várias piadas sobre essa toada da internet. Eu faria essa piada dentro de um contexto específico, um casal conversando, amigos, pai e filho, aí você explora MAIS essa coisa cotidiana dentro de algo mais específico. Dá até pra viajar e colocar animais, ETs e sei lá o que trocando mensagens.
Rafael Dourado – O que mais me incomodou na tira é que há um detalhamento quase excessivo no primeiro e no segundo quadro – tem até unha aparecendo no dedo, há quanto tempo eu não vejo isso em quadrinhos de humor – e no último há uma quebra que nem parece fazer parte do mesmo “universo” dos quadrinhos anteriores. O ritmo da tira não deixa margem pra que se tenha dúvida, mas há uma desconexão visível – o que seria facilmente resolvida com um traço menos “sujo” no primeiro quadro – ou mais detalhado no último. E é importante escolher o que detalhar – a maçã mordida no laptop tem informação demais – enquanto a própria perspectiva do desenho tem informação de menos. E já que o sujeito está teclando com um dedo só, a pose poderia ser dele com a outra mão no queixo, “segurando a cabeça” de tanto tédio…
André Farias – Fiquei com a impressão de já ter visto essa tirinha (ou melhor, a ideia dela) em vários outros lugares.Também acho que poderia dar mais ênfase ao tédio do “Will”. Mas gostei do fato de contar a historinha, mais ou menos, sem diálogos e do logo do notebook 🙂
Wesley Samp – A ideia é boa, mas me incomodou é que a disposição do texto me deu a impressão de que a piada foi explicada pro leitor – o que tira a graça da coisa. Eu teria utilizado os quadros exatamente na mesma disposição, mas colocaria o “dizem que a TV engorda” no fim da tira, substituindo o “eu discordo”.
Digo Freitas – Concordo com o Wes. Aliás, eu nem tinha lido o “eu discordo” ali embaixo antes de ler o comentário dele. Isso é muito perigoso para a piada. Uma coisa é ela ter um sentido na primeira vez e outro na segunda, outra é entender na segunda vez e já ter matado a punch-line.
Will Leite – Eu evito pôr legendas do lado de fora da tira ou dos quadros. E como foi dito, dava para fazer um quadro a parte com a primeira legenda. A segunda legenda(“Eu discordo”) seria desnecessária. Uma coisa que eu teria feito – não somaria em nada na piada, mas acho que ficaria legal – era colocar a TV num contexto… numa estante, raque… e cada qual com a cara da época… com um porta retrato antigo perto… abajur… com um estilo de acordo com a época. Como disse não somaria na piada, mas embelezaria o desenho, e faria o leitor observar a tira por mais, sei lá, 4 segundos…
Rafael Marçal – Gostei. Dava para resolver de várias formas diferentes e tal, já vi algo assim fazendo o paradoxo do telespectador engordando enquanto a TV emagrecia. De novo entro na questão subjetiva de explorar mais o cotidiano num contexto específico. Como mudou a nossa relação com a TV enquanto ela afinava, enfim. A paradinha da legenda pra fora da tira ferra mesmo, mas já disseram tudo.
Rafael Dourado – Um apresentador de TV estilo Ratinho ou Faustão dando o texto talvez desse um outro “ar” pra construção da piada, e o texto como uma pergunta: “Ué, não dizem que TV engorda?”
Eu demorei pra ler o “eu discordo”, e não somente não é muito bom o posicionamento dele na tira (assim como indicado pelos colegas, também é desnecessário), como ele está poluindo a área que você reservou para a sua assinatura.
André Farias – A TV do último quadrinho ficou muito escura em comparação com as outras duas. E o texto, também do último quadrinho, não ficou tão visível. Igual à primeira tira novamente fiquei com a impressão de já ter visto essa ideia antes, apesar de achar que a piada poderia ser mais bem trabalhada.
Wesley Samp – Muito bom ver que o Marçal continua fazendo escola!
Aqui o que mais me chamou a atenção foi o terceiro quadro. Nela, os pinguins parecem estar flutuando ao redor do personagem. Mas fiquei na dúvida se isso foi um erro na execução da arte ou se a ideia era fazer isso mesmo – deixar os pinguins flutuando, como se fossem aqueles passarinhos que aparecem na cabeça dos personagens de cartum quando eles ficam zonzos. Se foi o último caso, seria necessário deixar isso mais claro, dando uma expressão corporal ao personagens que evidenciassem a tonteira e desenhando os pinguins numa posição mais próxima de sua cabeça e com movimentos mais dinâmicos.
Digo Freitas – Nessa tira acho que é interessante observar as poses duras dos personagens. Apesar de comuns nas tiras, estas poses olhando para frente, geralmente elas trazem um certo incômodo, artificialidade. No primeiro quadro eu colocaria uma pose mais oprimida, mostrando a agressividade do cara de preto e tentando começar a piada ali, talvez até preparando um chute na bunda. Já no último quadro é um problema por não mostrar os pés. A piada é sobre pés, cadê os pés?
Will Leite – Já ouvi essa expressão aí… “Terra dos Pé Junto”… mas é certo que todo mundo sabe que diabo é isso?
Vou explicar o lance dos pinguins sobrepostos que o Wes observou. Se liga… o cara foi arremessado até o polo do planeta. Quando caiu lá… certamente caiu deitado… no meio de um aglomerado de pinguins. A imagem retratada no último quadro simula a visualização de cima da cena, onde estão os pinguins e o personagem deitados. Tcharã! Seria isso?
O Entendedor Anônimo comentou: Nada a vê esse planeta… não consigo identificar nenhum continente!
Rafael Marçal – Adorei a piada, odiei os desenhos. Manda aquele pinguim para trás do cara e com uma iluminação melhor no chão podemos perceber mais claramente que ele está rodeado de pinguins terrestres e não voadores. De novo, adorei a piada, mas… =P
Rafael Dourado – Eu não conhecia a expressão, mas ela é bastante intuitiva e, a despeito de reconhecê-la, de fato o final da tira funciona como “surpreendente” – não é uma terra de pinguim que eu tinha imaginado no primeiro quadrinho… Mas… O seu segundo quadrinho estraga um pouco o fim da piada – só a onomatopéia gigante teria funcionado melhor, pra surpreender de fato o leitor.
E como já comentado sobre as poses, vale ressaltar que no último quadrinho, como vítima de uma pancada, ele poderia estar ao menos sentado no chão, com uma das mãos no rosto (tomou uma pancada afinal), evitando o problema dos pinguins flutuantes.
André Farias – As posições dos pinguins no último quadrinho ficaram estranhas! Não curti muito a piada, mas deve ser questão de gosto pessoal mesmo.
Rodrigo Chaves – Uma das grandes chaves para escrever bons roteiros é ir além da ideia original. As tuas ideias para as tirinhas são boas, mas pense nessas ideias originais como um núcleo e que existe todo um universo de assuntos e possibilidades no entorno dele. Trazer alguns dos elementos desse universo para dentro da tirinha enriquece a história. Algumas ideias funcionam exatamente pela sua simplicidade (e é muito difícil ser simples), outras precisam de desenvolvimento. No caso das tuas tiras, sinto a falta do desenvolvimento.
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A piada com o entendedor anonimo foi melhor que as 3 tiras juntas HauHahUahHauHua’
Em primeiro lugar, obrigado por disponibilizarem atenção e boa vontade para ajudar com meu desenvolvimento.
Agora vamos aos esclarecimentos:
1ª Tira: A piada foi pensada por mim, mas depois eu vi que ela já existia, porém contada de outras formas, mesmo assim decidi contá-la do meu jeito. Fiz com três quadros e vertical para dar um certa “curiosidade” (que não precisava, porque a piada foi bem clichê mesmo). Muito pertinente o comentário do Dourado, os detalhes não foram coerentes durante a tira. É isso.
P.S: Logo depois que eu desenhei o personagem também achei parecido o Will. :p
2ª Tira
Sobre ela achei todos comentários muito válidos, eu poderia ter destacado o título num primeiro quadrinho e descartado a última legenda, assim como poderia ter contextualizado a tira de uma forma que ao menos lembrasse um fato cotidiano ou uma observação mais aprofundada. Sobre a falta de riqueza de detalhes, é porque eu tô meio “galego” ainda com a tablet, então tento simplificar a arte para eu dar conta do básico, por enquanto.
3ª Tira
Essa teve uma piada mais original, que poderia ter sido acompanhada de uma arte melhor. Eu achei boas as expressões do primeiro quadrinho, mas o segundo (o do planeta nadavê xD) foi só pra ficar mais claro para o leitor, considerando que enquanto desenhava ele eu tinha noção da dificuldade que eu iria encontrar para desenhar o terceiro. E o terceiro, como eu falei, foi sim uma chuva (ou nevasca) de desenhos mal resolvidos. Eu deveria ter mostrado o pé do cara, o próprio ficou com cara de muito mais velho do que no primeiro quadro (que pode fazer sentido, já que ele viajou por continentes até chegar lá, mas não foi intencional), os pinguins flutuando eu percebi assim que desenhei mas como estava em cima da hora eu acabei não consertando e deveria ter feito ele com “sequelas do chute”.
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@Chaves
Meu ídolo! Tudo que você fala me dá aquela sensação de quando você acaba de ler um livro, abre a mente. Sensacional, muito obrigado.
@Will
Seu blog foi a primeira webcomic que eu conheci e a que mais me incentivou a ingressar nesse “ramo” e seus comentários eu levo muito a sério, nem acreditei que você estaria nesse post, foi uma honra. Obrigado ^^
@Marçal
Seus comentários foram muito pertinentes. Vou reler sempre, com certeza.
Você é um grande exemplo de que uma pessoa pode melhorar (e muito) sua arte, eu tô no começo dessa trajetória.
@Dourado
Você é muito observador, suas dicas vão me ajudar bastante nas próximas tiras. A voz da experiência ;]]
@Wes
Obrigado pela agilidade em responder e organizar o post, suas críticas foram muito inteligentes.
@Digo
Você sempre foi um cara disponível nas vezes que eu precisei de ajuda, muito obrigado.
Só uma coisa, na segunda tira eu não desenhei ninguém olhando pra frente, o olhar dele está no horizonte atrás da “câmera”
@André
Praticamente só criticou :p
Mas foram críticas construtivas, das quais eu tomarei como lição pra não ser reincidente nos erros, valeu.
P.S²: Senti falta do Maciel, já imagino as broncas que ele daria.
Enfim, agradeço novamente as análises. \o/
Legal que o Comentando Tiras voltou 🙂
Não conhecia o Tirazarte, bem legal o tipo de humor.
Mas como o pessoal comentou, só resolver melhor os desenhos. Uma dica que eu dou é sempre que for fazer algum desenho, dar uma olhada em referências, por exemplo, vai desenhar alguém entediado, da uma olhada no Google Imagens, pra ver como normalmente é uma pessoa entediada, ai pega os clichês de mão no rosto, olho e tals e adiciona no seu desenho, com o seu estilo.
Na segunda tira, o segundo quadro também poderia ser completamente eliminado sem machucar a piada; aliás, acho que até melhoraria. Ao contrário do Will, não tenho nada contra tiras de dois quadros, mas quadros desnecessários incomodam um pouco. Na primeira tira, por exemplo, a pose da personagem do terceiro quadro fosse como sugerido (com a cara encostada na outra mão, entediado), o primeiro quadro não seria tão dispensável.
A tira da TV: teve uma tira que ficou famosa no FB há um tempo que mostrava um cara magro comprando uma TV enorme nos anos 70 vs um cara gordo comprando uma flat screen atualmente que me fez pensar que faltou metade da piada dessa tira.
Acho que o que diferencia uma piada contada em prosa de uma tirinha é justamente o aproveitamento da linguagem. Quadrinhos usam da conclusão e da temporalidade dos quadros pra criar e subverter expectativas. Por isso que eu não curto muito tirinhas de personagens duras, como disse o Digo, olhando pro expectador e conversando. Parece um jogral. Talvez esteja faltando aproveitar um pouco mais estes atributos dos quadrinhos.
Sempre gosto dos comentários do Chaves porque ele é o mais preocupado com essa questão. E essa sacada de que a ideia inicial está ainda no estado bruto é um excelente insight, porque da sua dilapidação é que normalmente se define o estilo do autor, e é o que torna a sua tirinha diferenciada das tirinhas dos outros e das piadas genéricas. A piada pode ser boa, mas COMO ela é contada também faz muita diferença.