Comentando Tiras – Sir Holland

Mais um Comentando Tiras no ar depois de um passeio na Europa, na África e em Mordor, voltamos para palpitar no trabalho dos outros! Pra quem não conhece, o Comentando Tiras funciona assim: A turma do Café dá uma olhada em três tiras de um determinado autor e repassa os seus pitacos, com comentários e sugestões.

Hoje a tirinha é do Sandro Zambi, do Sir Holland.

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Rafael B. Dourado: O traço é foda, expressivo pra caramba, mesmo mostrando tão “pouco” do Sir Holland! O dragão acaba sendo mais “humano” que os humanos e isso gera um efeito visual muito bacana. Também curto o título da série “pregado” entre os quadros, destoando do resto. Mas a diagramação eu acho muito confusa. O segundo quadrinho largado meio de lado parece e “sangrando” sobre o quadro final complica a leitura – até porque a frase final do dragão aparece antes no campo de visão.

Leonardo Maciel: Primeiro, gosto muito do trabalho do Sandro e acompanho já tem um tempo. E como tinha dito pro pessoal do Café, trabalho bom é mais difícil de criticar.

Não tenho nada pra falar dos desenhos, que acho ótimos. Mas agora, quanto a essa tira em específico, acho que o maior problema está na disposição dos quadros.
Um problema de quadros verticais é que eles funcionam melhor quando colocados na parte esquerda da página. Do jeito que está aí, o leitor fica confuso sobre a ordem de leitura, ele deve sair do primeiro quadro e continuar lendo à direita ou deve passar pro quadro de baixo? Os leitores que passarem direto pro quadro da direita já vão ler a conclusão da piada, o que vai tirar a graça da coisa.
Acho que teria ficado melhor se tivesse colocado os dois quadros menores em cima e um comprido em baixo.

Outro problema menor é a posição do título, centralizado. Acho que funcionaria melhor se colocado no começo da tira, ali ela acaba atrapalhando o ritmo da leitura.

Digo Freitas: Só acompanhando o comentário acima, concordo que o título no meio atrapalha e que o segundo quadro ficou numa posição confusa. Não por ele estar inclinado, mas por estar acima do próximo da sequência da piada, além da grande distância entre o de cima e o de baixo.
Narrativa gráfica tem sua própria linguagem, e grandes intervalo entre quadros geralmente tem um destes dois significados: “não leia esse agora” ou “um tempo depois”. Não que isso seja regra, mas são as primeiras coisas que vem a cabeça do leitor.
Sobrepor o quadro da direita sobre os da esquerda seria uma solução simples.

Rodrigo Wiedemann Chaves: Fazendo um balanço geral das tiras eu avaliaria como: Desenho nota 10, humor nota 6.
Não estou dizendo que o humor é ruim, mas que está na média. Há 20 anos eu teria lido esse material e achado uma das coisas mais sensacionais da vida, mas hoje, com a proliferação de autores e tirinhas na internet e o grande acesso a elas, a competitividade (na falta de um termo melhor) e a comparação entre elas nos evidencia a existência desse humor mediano. Um humor evidentemente baseado em grandes mestres, mas que são os grandes mestres que basearam o trabalho de todo mundo, tornando esse humor “comum”. Como artistas, temos sempre que tentar dar o passo a frente, rever como que aquela tira pode ser melhor, como que a piada pode ter mais impacto, como que ela pode nos dizer mais e, principalmente, criar a nossa própria voz.
Me parece que o autor, que tem um potencial enorme, com um desenho maravilhoso e ideias boas está acomodado na sua zona de conforto, onde ele sabe que consegue um resultado geral um pouco acima dos outros, já que o seu desenho é nota 10.
Vamos imaginar essas mesmas tiras sendo realizadas por um desenhista menos competente. Seria uma tira bem “comunzinha”.
Então, tendo que dar um conselho para o artista, eu aconselharia ele a tentar dar uma passo a frente como roteirista, revendo o timing das piadas, tentando deixar os diálogos mais divertidos, etc. Para que o roteiro se aproxime do nível do desenho nota 10.

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Rafael B. Dourado: Nesta tira – ótima por sinal, relembrando as animações do coyote do Chuck Jones – tem o problema de composição – parece que os 4 quadros da esquerda são uma história e o quadro “invisível” mais os dois colados da direita estariam em outra narrativa. E o autor deve ter notado, já que enquadrou os dois últimos pra melhorar essa diferenciação. Acho que sem tanta tentativa de simetria funcionaria melhor – dava pra ter 4 quadros em cima e 3 quadros na linha de baixo.

Leonardo Maciel: cara, essa tá foda de criticar. A piada em homenagem ao desenho animado do Coiote, clássico do Chuck Jones, tá ótima!
Concordo com o Dourado, o único problema tá na diferenciação dos últimos quadros, ainda mais com eles subindo e comendo um pedaço do quadro de cima.
Quatro quadros em cima e três em baixo, numa diagramação mais padrão ficaria melhor.

Rafael Marçal: Tipo, concordo com vocês dois.
Acho ainda que uma “solução” para diminuir essa impressão seria colocar os dois quadros à direita na mesma altura dos quadros debaixo à esquerda e o segundo quadro, o do Plééééim, esse sim invadindo um pouco o lado direito.

Digo Freitas: Ótima tira! Só para não repetir os pontos já destacados, apesar do domínio de cor do artista ser excelente, inclusive nesta tira, o enquadramento azul além de não corrigir o problema destacado, destoa de todo o resto.
Alinhamento padrão é tedioso, mas é o que funciona na maioria das vezes.
Sugerindo agora uma solução, talvez manter o mesmo tipo de quadro nos dois últimos como se fossem um só dos anteriores e alinhar horizontalmente com o restante da segunda linha. Isto apesar de remover um bom espaço para o final da piada, vai fazê-la ser melhor compreendida.

Rodrigo Wiedemann Chaves: Essa tira sofre do problema que coloquei no primeiro comentário. É uma baita piada, com um desenho excelente, mas com um resultado humorístico nota 6.
Veja no exemplo que fiz da tirinha com o balão de texto só no último quadro. A história funciona. Isso significa que todos os balões de texto que eu cortei são supérfluos. Se optares por colocar texto, coloque textos divertidos, que valem a pena, e não textos burocráticos que só dizem o que o leitor já está vendo no desenho.

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Inclusive, tirando os textos, fica mais sutil o que está acontecendo, aumentando o impacto do último quadro quando o quê aconteceu é reforçado pela fala do dragão.

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Rafael B. Dourado: Aqui o problema talvez seja de construção dos elementos da cena como um todo… Minha primeira leitura era que o animal do primeiro quadro era um esquilo – e estava em primeiro plano e o Sir Holland bem ao fundo. Para ter gerado um casaco de pele inteiro, talvez o animal seja outro… Na prática não faz diferença na construção da história, mas serve como “chatice de fã”.

Mas talvez o primeiro quadro só com o animal e o balão de pensamento vindo de fora da cena, e um quadro intermediário só com a flecha sendo lançada para, enfim, o quadro do Sir carregando a pele já dava conta da narrativa sem o problema de escala…

Leonardo Maciel: Essa tá ótima. Desenhos expressivos, fluxo de leitura bom…
A única coisa que dá pra falar, é bem pequena, mas é algo em que eu sempre presto atenção, acho que influencia de maneira subjetiva a leitura.
No primeiro quadro de baixo, em que ele está segurando o casaco, eu inverteria o lado pra onde ele tá olhando. Desse jeito você reforçaria a nossa ordem de leitura ocidental da esquerda pra direita, além de fazer o personagem olhar pro quadro seguinte, o que também ajuda a direcionar o olhar do leitor.
Fiz aqui como exemplo.

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Digo Freitas: Essa eu não ia comentar nada, é a com melhor narrativa das 3 com certeza apesar da piada simples, mas endosso o comentário do Leo acima. Melhoraria a leitura.

Rodrigo Wiedemann Chaves: Essa tira sofre da perda de impacto da piada. Aliás é uma piada que, quanto mais eu penso nela, menos sentido ela faz.
Da primeira vez que li a tira, não entendi. Depois me dei conta de que o esquilo fede desde o primeiro quadro. Então a tira tem duas leituras: A da pessoa que não viu que o esquilo fede, então não vai entender o final, e a da pessoa que viu que o esquilo fede, então o final não vai ter impacto. Aliás, porque ela está dando banho nele no último quadro? Ok, eu sei que é porque ele carregou o casaco e ficou fedido também, mas o resto da historinha não é sobre isso. A gente tem um final que é bonitinho, uma imagem fofa dela dando banho nele, mas que não amarra as pontas da história. Mais uma vez faltou o lado roteirista pensando mais na história e pensando em alternativas.

Ficamos por aqui com esse comentando tiras, se você quer ter o seu trabalho avaliado, pode mandar no nosso e-mail: contato@cafecomhq.com ou clicar aqui.

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Um comentário

  • Obrigado, galera! É sempre bom ouvir opiniões de várias fontes que ajudem no aperfeiçoamento. Todas as considerações já estão anotadas aqui. Abraços e força nesses quadrados!

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